quinta-feira, 10 de maio de 2012

Eleições. Fim das ideologias?

Publicamos abaixo texto produzido pelo presidente estadual do PCdoB Deputado Raul Carrion, em resposta ao colunista do Correio do Povo, Juremir Machado da Silva e que revela muito da posição do Partido não só quanto as eleições em Porte Alegre, mas devido a similaridade dos cenários, também com as eleições em Ijuí.

O divisor de águas é a luta contra o neoliberalismo

Prezado Juremir:

Como teu admirador e leitor assíduo – que compartilho muitas das opiniões por ti expostas – não poderia furtar-me de expor nesta “Carta Aberta” as minhas discordâncias em relação ao teu artigo “PCdoB e PP: nova tese sobre o fim das ideologias?”

Presidente do PCdoB/RS
Dep. Estadual Raul Carrion
Ao contrário do que insinuas, o PCdoB nunca abandonou a sua ideologia e o seu projeto histórico – a construção de uma nova sociedade, livre de toda forma de opressão e exploração, uma sociedade Socialista. Socialismo renovado, com a cara do Brasil, avesso a modelos, radicalmente democrático!

E entende que no Brasil de hoje – inserido em um mundo hegemonizado pelo capitalismo neoliberal, em profunda crise sistêmica – a conquista dessa nova sociedade passa pela construção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento – soberano, democrático e com inclusão social – em torno do qual é possível unificar amplos setores sociais, com o objetivo de isolar e derrotar o grande capital financeiro (rentista e usurário) e o seu projeto neoliberal. Esse é o divisor de águas nos dias de hoje!

Assim, o PCdoB trabalha para construir a união de todas as correntes políticas que lutam por um Brasil progressista, soberano, democrático e mais justo, respeitando as suas diferenças ideológicas. Da mesma forma que Lula fez em seus dois governos e Dilma está fazendo agora.

Não faz parte da cultura do PCdoB o sectarismo e a arrogância dos pretensos “donos da verdade”, mas sim a amplitude, a tolerância, a valorização das diferenças e a política “frentista”. Assim fizemos no combate ao nazi-fascismo, na campanha “O Petróleo é Nosso”, na luta pela redemocratização do país, pela Anistia, pelas “Diretas Já”, pela Constituinte, pelo “Fora Collor”, contra o neoliberalismo. Em todas essas lutas, decisivas para mudar o país, foi a mais ampla unidade de forças – de diferentes ideologias – que garantiu vitórias para o nosso povo.

Em Porto Alegre, os nossos inimigos são a “mesmice” no enfrentamento dos problemas e a estagnação da cidade; o foco nos “grandes projetos” e não nas pessoas; o trânsito caótico; a falta de acessibilidade; a inundação da cidade a cada chuva; as vilas sem saneamento; a cidade abandonada ao lixo; a incapacidade de levar o “Minha Casa, Minha Vida” aos mais pobres; a precarização da saúde; a expansão da drogadição, o abandono das nossas praças. O que há de errado em tentar unir, em torno de um Programa comum, todos que almejam mudar essa realidade? Ou só aceitas a “grenalização” da política?

Aliás, Juremir, tu que és um admirador assumido de Getúlio Vargas deves saber que ele teve a capacidade de unir “Chimangos” e “Maragatos” (que se degolavam no Rio Grande do Sul) para fazer a Revolução de 30 e transformar o Brasil. E que em 1945 ele criou dois partidos ideologicamente opostos – o PSD, para abrigar os setores oligárquicos que o apoiavam, e o PTB, para abrigar as lideranças sindicais e operárias que lhe seguiam. O que lhe possibilitou o retorno em 1950, nos braços do povo.

Da mesma forma, Leonel Brizola – que com justiça tanto invocas – elegeu-se governador em 1959 com o apoio do PRP do “integralista” Plínio Salgado e do PSP de Ademar de Barros. E a Prefeitura de Porto Alegre, comandada pelo PDT, é uma composição política que desde 2004 inclui o PSDB e o DEM – que no governo federal fizeram de tudo para “acabar com a Era Vargas” –, além do PP que tanto estigmatizas.

Por que será que isso nunca te angustiou, nunca te fez questionar sobre o pretenso “fim das ideologias”, sobre a coerência ou não das alianças? Confesso que eu também poderia levantar as três hipóteses que sugeriste – a da suspeita, a rasteira e a cautelosa –, mas não o farei para não constranger-te.

Quanto à relação do PCdoB com o PP, gostaria de informar-te que desde 2003 ele participa dos governos Lula e Dilma – em aliança com o PCdoB, o PSB, o PT e demais partidos da base de apoio –, foi convidado por Tarso Genro para fazer parte do seu governo – tendo declinado do convite – e tem alianças com o PCdoB, o PSB e o PT em importantes municípios, entre os quais Canoas, onde é vice do PT. Sob a liderança da Senadora Ana Amélia, o PP representa amplas parcelas de pequenos, médios e grandes agricultores, importantes segmentos do empresariado produtivo e camadas populares urbanas, merecendo nosso maior respeito.

Concluo com uma pergunta que não quer calar: por que tamanha intolerância contra o PP e contra a Senadora Ana Amélia? Ou a intolerância na verdade é contra o PCdoB e a Manuela?

Certo de que és capaz de conviver com a diferença de opiniões,

Deputado Raul Carrion – Presidente Estadual do PCdoB

Nenhum comentário:

Postar um comentário