segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Conferência reconduz Ângelo Schiavo à presidência do Partido

O PCdoB de Ijuí realizou no sábado (09), sua conferência municipal, elegendo o seu comitê para o mandato de 2 anos. Além disso, apresentou-se um balanço da atuação do comitê que deixa o mandato, aprovou-se o projeto político do Partido para as eleições em 2020 e elegeram-se os delegados para a conferência estadual, no próximo dia 23. A conferência foi presidida por Angelo Schiavo e secretariada por Rosanne Simon.

O ex-deputado Raul Carrion, representando o comitê estadual. Fez um relato da conjuntura política nacional, de acordo com o projeto do PCdoB. Para o Partido, depois de um período progressista na América latina, vivemos uma contraofensiva do imperialismo com forte viés ultraneoliberal. Esta contraofensiva se dá em virtude de uma crise no capitalismo que, iniciada em 2008, ainda não está resolvida, apresentando desdobramentos sociais, ambientais e econômicos nos países centrais e da periferia do sistema. Não resolvida, esta crise tende a ampliar-se. Na medida em que os estados nacionais não tem dado respostas no enfrentamento de sintomas desta crise, surge o fascismo no mundo e também no Brasil, com uma ofensiva mundial contra a esquerda. Este cenário resultou na eleição de Jair Bolsonaro.

“Este governo elegeu-se sem apresentar um projeto aos eleitores, mas tem o seu projeto. Ultraentregista, submetido aos interesses imperialistas dos norteamericanos; ultraneoliberal, pois deseja vender, desregulamentar e impor reformas antipopulares, de acordo com os interesses selvagens do capital e do sistema financeiro e neofascista, especialmente pelo caráter antidemocrático e pelo ódio que semeia no país”, argumentou Carrion. Para o PCdoB, no entanto, a vitória da ultradireita fascista no país foi uma derrota não só para a esquerda e os movimentos sociais e populares, mas também para os partidos conservadores tradicionais ligados ao centrão, que perderam identidade e base eleitoral.

“Nosso caminho segue sendo o da defesa de um projeto nacional de desenvolvimento que amplie os direitos do nosso povo. Nas próximas eleições, defender a democracia é a questão tática central que teremos que enfrentar, promovendo a união de todos os defensores da democracia que se agreguem a luta antifascista”, concluiu.

Eleições 2020
Carrion observou o fortalecimento do PCdoB, após a fusão com o PPL e que, a liberdade de Lula, após um julgamento injusto e uma prisão sem provas, é uma derrota aos setores da justiça engajada politicamente e do conservadorismo. “As eleições em 2020 são fundamentais e a nossa tática será a de fortalecer a luta democrática em coligações que defendam a democracia no país”.

O vereador e pré-candidato a prefeito, Junior Piaia, apresentou o projeto eleitoral do Partido em Ijuí, para as próximas eleições. O PCdoB defende um governo de justiça social com um projeto claro de desenvolvimento, mas que também, neste momento específico, se construa no processo eleitoral frentes de enfrentamento ao fascismo e que defendam a retomada de um projeto soberano, democrático e nacionalista.

“O atual modelo de administração, em vigor no município a mais de 30 anos, atinge alguns resultados positivos, porém é estanque e estagnado. Não conseguiu propor ao longo de todos estes anos soluções para a questão fundamental de criar e gerir recursos para o investimento público e, também ao longo destes anos, deixou fluir uma crise financeira que se reflete diretamente na prestação de serviços e nos investimentos. As próximas eleições são momento de, como já foi em outras eleições, construirmos uma ampla frente de partidos e lideranças com um projeto para o município mais avançado em relação ao modelo de administração atual”, disse Piaia. Com o fim das coligações para as eleições a vereador, o PCdoB trabalha também para construir a sua chapa de candidatos ao legislativo buscando ampliar sua participação na Câmara de vereadores.
No balanço da gestão do comitê nos últimos 2 anos, referenciou-se o momento de defensiva pelos quais passaram os setores de esquerda e os movimentos sociais. Apesar disso, o PCdoB avalia que, com altivez e combatividade, ampliou a luta dos trabalhadores e do povo nas mobilizações contra a retirada dos direitos dos trabalhadores organizadas em Ijuí e região. Ainda que o período tenha sido de limitações, houve êxitos, entre eles, a condução da candidatura de Rosane Simon a deputada estadual em 2018, em meio ao contexto de refluxo da luta popular e democrática.

Angelo Schiavo, foi reeleito presidente da sigla. O novo comitê eleito, de 21 membros (7 mulheres, respeitando a cota de 1/3), terá pela frente o desafio de construir uma frente ampla e democrática, considerando as expressões e a conjuntura política no município de Ijuí.

Comitê eleito: Adriano Schröer, Agenor Castoldi, Alisson Legonde, Ângelo Schiavo, Arnildo Moscato, Camila Betsch, Etienne Raseira, Israel Rocha, Jocemar Pereira, Junior Piaia, Lucia Crescente, Lucia Didoné, Luciana Pereira, Luiz Etevaldo, Marlon Soares, Mateus Rassia, Neira Mello, Nelson Lima, Nilo Fricke, Rosane Simon e
Vanderlei Gutler.

Ao final, em um momento de confraternização e autógrafos, houve o lançamento das obras “Codinome Gurjão – Só morrem as causas pelas quais ninguém luta”, livro de memórias do Professor Agenor Castoldi e, “A luta vale a pena”, livro que reúne o relato da trajetória de 50 anos de militância no PCdoB e de 6 anos na Ação Popular, de Raul Carrion, historiador, militante, por três legislaturas vereador de Porto Alegre e por duas legislaturas, deputado estadual do RS.


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Literatura: Relatos singulares de memórias e trajetórias singulares

O relato histórico dominante é a versão de quem? Esta questão suscita um despertar e duas obras que serão lançadas na região esta semana tratam de aprofundar e resgatar relatos que nos dão um olhar aprofundado sobre a história do Brasil e da imigração italiana, em uma abordagem conectada a realidade dos trabalhadores e das lutas sociais. Relatos singulares de memórias e trajetórias singulares.

Codinome Gurjão – Só morrem as causas pelas quais ninguém luta” é o livro de memórias do Professor Agenor Castoldi. Mestre em desenvolvimento pela Universidade Federal Rural do RJ. Castoldi desenvolveu atividades acadêmicas por 40 anos na Unijui. Militante do PCdoB nos anos de chumbo, foi preso e torturado pela ditadura. Atuou como sindicalista, tendo sido presidente e fundador do SINPRO Noroeste e da Intersindical de Ijuí.

Suas memórias são uma emocionante aventura, recheada por uma extensa e aprofundada pesquisa de suas raízes, com início no relato da vinda de seu bisavô, Paolo Antônio Castoldi, ao Brasil, imigrando de Brugherio na Itália para Nova Milano, na Serra Gaúcha. Deste ponto de partida, perpassamos a história de quatro gerações da família Castoldi. Chama atenção as muitas abordagens da vida do imigrante e de seus costumes, além da contextualização de suas memórias com acontecimentos históricos e políticos.


Militante das causas sociais e da democracia, as memórias de Agenor Castoldi nos situam em um universo pouco explorado, ou vagamente conhecido, da vida e do cotidiano de um militante de esquerda em nossa região, o noroeste do estado. Aqui seu relato ganha muita singularidade, por resgatar personagens e fatos regionais relativos a sua militância e a política daquele período.


Já outro lançamento, “A luta vale a pena”, reúne o relato da trajetória de 50 anos de militância no PCdoB e de 6 anos na Ação Popular de Raul Carrion, historiador, militante, por três legislaturas vereador de Porto Alegre e por duas legislaturas, deputado estadual do RS. O livro traz ainda uma coletânea de textos teóricos, abordando questões do socialismo e da história do Rio Grande do Sul.

Em comum entre as duas obras, os relatos de vidas que optaram por lutar, pois como define o próprio Carrion “por mais sacrifícios e esforços que nos custe abrir caminho para o ‘NOVO’, ele é inelutável, não por conta de qualquer fatalismo – nada acontece na história sem a participação ativa e consciente de homens e mulheres –, mas porque surgirão inevitavelmente homens e mulheres, precursores dos novos tempos, determinados em fazer a ‘roda da história’ avançar, sem medir sacrifícios ou consequências”. Agenor Castoldi e Raul Carrion são dois destes determinados precursores destes novos tempos. Como conclama o próprio Carrion, “sejamos dignos desses homens e mulheres de vanguarda que, ao longo da história humana – contraditória, de avanços e retrocessos –, souberam desbravar novas sendas para a humanidade. E esforcemo-nos por fazer a nossa parte!


Há, no entanto, muito mais. Se considerarmos que a verdade histórica se constrói na análise profunda da complexidade e multiplicidade dos fatos, estas duas obras nos permitem refletir sobre o viés em que cada ator social constrói sua própria história. Interpretação que o Professor Dinarte Belato aprofunda com uma reflexão, na apresentação que fez de Codinome Gurjão. “Espero, e certamente Agenor também, que estas memórias, em permanente ligação com a realidade e marcada pelo esforço de sua interpretação e entendimento, estimule os leitores, os companheiros e os militantes sociais a também guardarem suas memórias e, no momento oportuno, escrevê-las e partilhá-las. Se nós, trabalhadores, não nos dermos o trabalho de escrever nossas histórias, de nossos movimentos sociais e políticos, de nossas militâncias e pesquisas, deixaremos o campo aberto para que a classe dominante continue ocupando com exclusividade o sentido e a interpretação da nossa sociedade. A História do Brasil não pode continuar sendo majoritariamente a de uma classe dominante, de uma fração singular da sociedade, mas de todos os sujeitos sociais, com seus respectivos tempos históricos.”


As obras terão lançamento conjunto, com a presença dos autores. Nesta sexta-feira (08) em Cruz Alta (17:30 horas, na 23ª Feira do Livro) e no sábado (09) em Ijuí, no plenário da Câmara de Vereadores, a partir das 16:30 horas. “Codinome Gurjão” será lançada ainda na feira do livro em Ijuí, no stand dos escritores.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Com foco na prevenção de conflitos, da violência e na promoção de uma cultura de paz, Justiça Restaurativa será debatida em audiência pública nesta quinta-feira

Uma audiência pública marcada para esta quinta-feira (07), no plenário da Câmara de Vereadores (9 horas), debaterá o projeto de lei que institui a política pública de Justiça Restaurativa no município de Ijuí. “É uma nova forma de se fazer justiça diante do momento em que vivemos, no qual é possível constatar um certo crescimento nos índices de violência no âmbito familiar, escolar e social. Esta violência muitas vezes desemboca em atitudes, por parte dos agressores, que colocam em risco a vida humana”, explica o proponente do projeto, vereador Junior Carlos Piaia.

A justiça restaurativa tem seu histórico inicial ainda nos anos 1970, quando implementaram-se programas e práticas restaurativas em diversos países. A proposta surge como uma alternativa para a prevenção e a solução de conflitos e violência. Chega ao Brasil nos anos 2000 e em 2005 chega ao nosso estado através da AJURIS (Associação dos Juízes do Estado do RS), com o projeto “Justiça para o Século 21”. Em Ijuí, desde 2016, o tema Justiça Restaurativa é debatido pela Unijui e pelo Ministério Público através do CJUSC (Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania).
Apesar de ter origem no campo jurídico, as práticas da Justiça Restaurativa ultrapassam esta fronteira e alcançam a escola, ambientes de trabalho, as universidades e outros locais de convivência social onde criam-se espaços seguros para o diálogo entre sujeitos que estão em situação de conflito entre si.

No município, desde 2018, acontecem ações para implementar a proposta na Comarca de Ijuí. A primeira ação foi a capacitação de um grupo de pessoas pelo Ministério Público através de formação em Círculos de Construção de Paz. No mesmo ano realizou-se também o 1º Seminário de Justiça Restaurativa, promovido pelo MP, Unijui, facilitadores e apoiadores da comunidade. Desde lá, muitas ações ocorreram em diferentes áreas, com o Grupo de Facilitadores atuando em escolas da rede municipal, estadual e particular, no sistema penitenciário, na rede de proteção, na Coordenadoria da Mulher e no CJUSC, em processos judiciais.

O foco principal na Justiça Restaurativa é promover uma cultura de paz e neste sentido, a abordagem das situações conflitivas se dá mediante a utilização de enfoques diferenciados, que envolvem a participação dos envolvidos, das famílias, e das comunidades; atenção às necessidades legítimas das vítimas e dos ofensores; reparação dos danos sofridos e compartilhamento das responsabilidades e obrigações visando a superação das causas e consequências dos conflitos.

“Através da Justiça Restaurativa, queremos promover implementação de práticas que reparam danos causados por diferentes formas de violência, gerenciando estas situações com a prevenção e o entendimento entre as partes envolvidas em situações de conflito. Os resultados alcançados são positivos nas ações realizadas. É um projeto com enorme alcance social e diante do amadurecimento desta experiência, já estabelecida na comunidade ijuiense, propomos a sua implementação também como política pública. É um caminho positivo, constitutivo de cidadania, solidariedade, justiça plena e principalmente, promotor da paz”, afirma Junior Piaia.

Ester Eliana Hauser, Mestre em Direito Público pela UFSC e professora de Direito Penal, Politica Criminal e Justiça Restaurativa da Unijui argumenta que o município de Ijuí não pode ficar de fora do processo de consolidação da Justiça Restaurativa como política pública. “É um movimento que se fortalece significativamente no país e no estado, com diversos municípios aprovando legislação que instituem o projeto. A instituição da Justiça Restaurativa como política pública será muito importante porque nos permitirá consolidar e aprimorar um conjunto de ações que já estão em prática e também projetará a implementação de diferentes ações a partir da execução de políticas públicas, facilitando o processo de planejamento e avaliação das atividades e disseminando as práticas desenvolvidas no projeto”.