O relato histórico dominante é a versão de quem? Esta questão
suscita um despertar e duas obras que serão lançadas na região
esta semana tratam de aprofundar e resgatar relatos que nos dão um
olhar aprofundado sobre a história do Brasil e da imigração
italiana, em uma abordagem conectada a realidade dos trabalhadores
e das lutas sociais. Relatos singulares de memórias e trajetórias
singulares.
“Codinome Gurjão – Só morrem as causas pelas quais ninguém luta” é
o livro de memórias do Professor Agenor Castoldi. Mestre em
desenvolvimento pela Universidade Federal Rural do RJ. Castoldi
desenvolveu atividades acadêmicas por 40 anos na Unijui. Militante
do PCdoB nos anos de chumbo, foi preso e torturado pela ditadura.
Atuou como sindicalista, tendo sido presidente e fundador do
SINPRO Noroeste e da Intersindical de Ijuí.
Suas memórias são uma emocionante aventura, recheada por uma
extensa e aprofundada pesquisa de suas raízes, com início no
relato da vinda de seu bisavô, Paolo Antônio Castoldi, ao Brasil,
imigrando de Brugherio na Itália para Nova Milano, na Serra
Gaúcha. Deste ponto de partida, perpassamos a história de quatro
gerações da família Castoldi. Chama atenção as muitas abordagens
da vida do imigrante e de seus costumes, além da contextualização
de suas memórias com acontecimentos históricos e políticos.
Militante das causas sociais e da democracia, as memórias de
Agenor Castoldi nos situam em um universo pouco explorado, ou
vagamente conhecido, da vida e do cotidiano de um militante de
esquerda em nossa região, o noroeste do estado. Aqui seu relato
ganha muita singularidade, por resgatar personagens e fatos
regionais relativos a sua militância e a política daquele período.
Já outro lançamento, “A luta vale a pena”, reúne o relato da
trajetória de 50 anos de militância no PCdoB e de 6 anos na Ação
Popular de Raul Carrion, historiador, militante, por três
legislaturas vereador de Porto Alegre e por duas legislaturas,
deputado estadual do RS. O livro traz ainda uma coletânea de
textos teóricos, abordando questões do socialismo e da história do
Rio Grande do Sul.
Em comum entre as duas obras, os relatos de
vidas que optaram por lutar, pois como define o próprio Carrion
“por mais sacrifícios e esforços que nos custe abrir caminho para
o ‘NOVO’, ele é inelutável, não por conta de qualquer fatalismo –
nada acontece na história sem a participação ativa e consciente de
homens e mulheres –, mas porque surgirão inevitavelmente homens e
mulheres, precursores dos novos tempos, determinados em fazer a
‘roda da história’ avançar, sem medir sacrifícios ou
consequências”. Agenor Castoldi e Raul Carrion são dois destes
determinados precursores destes novos tempos. Como conclama o
próprio Carrion, “sejamos dignos desses homens e mulheres de
vanguarda que, ao longo da história humana – contraditória, de
avanços e retrocessos –, souberam desbravar novas sendas para a
humanidade. E esforcemo-nos por fazer a nossa parte!”
Há, no entanto, muito mais. Se considerarmos que a verdade
histórica se constrói na análise profunda da complexidade e
multiplicidade dos fatos, estas duas obras nos permitem refletir
sobre o viés em que cada ator social constrói sua própria
história. Interpretação que o Professor Dinarte Belato aprofunda
com uma reflexão, na apresentação que fez de Codinome Gurjão.
“Espero, e certamente Agenor também, que estas memórias, em
permanente ligação com a realidade e marcada pelo esforço de sua
interpretação e entendimento, estimule os leitores, os
companheiros e os militantes sociais a também guardarem suas
memórias e, no momento oportuno, escrevê-las e partilhá-las. Se
nós, trabalhadores, não nos dermos o trabalho de escrever nossas
histórias, de nossos movimentos sociais e políticos, de nossas
militâncias e pesquisas, deixaremos o campo aberto para que a
classe dominante continue ocupando com exclusividade o sentido e a
interpretação da nossa sociedade. A História do Brasil não pode
continuar sendo majoritariamente a de uma classe dominante, de uma
fração singular da sociedade, mas de todos os sujeitos sociais,
com seus respectivos tempos históricos.”
As obras terão lançamento conjunto, com a presença dos autores.
Nesta sexta-feira (08) em Cruz Alta (17:30 horas, na 23ª Feira do
Livro) e no sábado (09) em Ijuí, no plenário da Câmara de
Vereadores, a partir das 16:30 horas. “Codinome Gurjão” será
lançada ainda na feira do livro em Ijuí, no stand dos escritores.
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