quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Literatura: Relatos singulares de memórias e trajetórias singulares

O relato histórico dominante é a versão de quem? Esta questão suscita um despertar e duas obras que serão lançadas na região esta semana tratam de aprofundar e resgatar relatos que nos dão um olhar aprofundado sobre a história do Brasil e da imigração italiana, em uma abordagem conectada a realidade dos trabalhadores e das lutas sociais. Relatos singulares de memórias e trajetórias singulares.

Codinome Gurjão – Só morrem as causas pelas quais ninguém luta” é o livro de memórias do Professor Agenor Castoldi. Mestre em desenvolvimento pela Universidade Federal Rural do RJ. Castoldi desenvolveu atividades acadêmicas por 40 anos na Unijui. Militante do PCdoB nos anos de chumbo, foi preso e torturado pela ditadura. Atuou como sindicalista, tendo sido presidente e fundador do SINPRO Noroeste e da Intersindical de Ijuí.

Suas memórias são uma emocionante aventura, recheada por uma extensa e aprofundada pesquisa de suas raízes, com início no relato da vinda de seu bisavô, Paolo Antônio Castoldi, ao Brasil, imigrando de Brugherio na Itália para Nova Milano, na Serra Gaúcha. Deste ponto de partida, perpassamos a história de quatro gerações da família Castoldi. Chama atenção as muitas abordagens da vida do imigrante e de seus costumes, além da contextualização de suas memórias com acontecimentos históricos e políticos.


Militante das causas sociais e da democracia, as memórias de Agenor Castoldi nos situam em um universo pouco explorado, ou vagamente conhecido, da vida e do cotidiano de um militante de esquerda em nossa região, o noroeste do estado. Aqui seu relato ganha muita singularidade, por resgatar personagens e fatos regionais relativos a sua militância e a política daquele período.


Já outro lançamento, “A luta vale a pena”, reúne o relato da trajetória de 50 anos de militância no PCdoB e de 6 anos na Ação Popular de Raul Carrion, historiador, militante, por três legislaturas vereador de Porto Alegre e por duas legislaturas, deputado estadual do RS. O livro traz ainda uma coletânea de textos teóricos, abordando questões do socialismo e da história do Rio Grande do Sul.

Em comum entre as duas obras, os relatos de vidas que optaram por lutar, pois como define o próprio Carrion “por mais sacrifícios e esforços que nos custe abrir caminho para o ‘NOVO’, ele é inelutável, não por conta de qualquer fatalismo – nada acontece na história sem a participação ativa e consciente de homens e mulheres –, mas porque surgirão inevitavelmente homens e mulheres, precursores dos novos tempos, determinados em fazer a ‘roda da história’ avançar, sem medir sacrifícios ou consequências”. Agenor Castoldi e Raul Carrion são dois destes determinados precursores destes novos tempos. Como conclama o próprio Carrion, “sejamos dignos desses homens e mulheres de vanguarda que, ao longo da história humana – contraditória, de avanços e retrocessos –, souberam desbravar novas sendas para a humanidade. E esforcemo-nos por fazer a nossa parte!


Há, no entanto, muito mais. Se considerarmos que a verdade histórica se constrói na análise profunda da complexidade e multiplicidade dos fatos, estas duas obras nos permitem refletir sobre o viés em que cada ator social constrói sua própria história. Interpretação que o Professor Dinarte Belato aprofunda com uma reflexão, na apresentação que fez de Codinome Gurjão. “Espero, e certamente Agenor também, que estas memórias, em permanente ligação com a realidade e marcada pelo esforço de sua interpretação e entendimento, estimule os leitores, os companheiros e os militantes sociais a também guardarem suas memórias e, no momento oportuno, escrevê-las e partilhá-las. Se nós, trabalhadores, não nos dermos o trabalho de escrever nossas histórias, de nossos movimentos sociais e políticos, de nossas militâncias e pesquisas, deixaremos o campo aberto para que a classe dominante continue ocupando com exclusividade o sentido e a interpretação da nossa sociedade. A História do Brasil não pode continuar sendo majoritariamente a de uma classe dominante, de uma fração singular da sociedade, mas de todos os sujeitos sociais, com seus respectivos tempos históricos.”


As obras terão lançamento conjunto, com a presença dos autores. Nesta sexta-feira (08) em Cruz Alta (17:30 horas, na 23ª Feira do Livro) e no sábado (09) em Ijuí, no plenário da Câmara de Vereadores, a partir das 16:30 horas. “Codinome Gurjão” será lançada ainda na feira do livro em Ijuí, no stand dos escritores.

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