Vamos começar a pensar o significado e sentido de dialética. A palavra é de origem grega e quer dizer diálogo, contraposição de ideias. De início, dialética queria dizer que o conhecimento se forma mediante o movimento de ideias: a relação da consciência com ela mesma e com outras consciências. Depois, passou a significar um método de conhecimento, que analisa a realidade prestando atenção ao movimento, às contradições, às transições, às concatenações (Fundação Maurício Grabois-FMG).
Dizer, então, que a filosofia marxista é materialista e dialética significa relacionar ao materialismo, que concebe as ideias como imagens dos objetos e fenômenos da realidade; explica a consciência do homem por sua existência. E dialética porque faz análise de conjunto: estuda os fatos, os fenômenos, processos em sua dinâmica, e nas variações, isto é, nas transições, concatenações, fluxos e refluxos( FMG).
A filosofia marxista tendo referência essa concepção de mundo, materialista e dialética, concebe o mundo, a sociedade, a natureza, os homens em constantes processos de mudanças. Assim, ao observar, pesquisar, pensar, relacionar, buscar a verdade, fazer perguntas, questionar as verdades, parte do princípio que cada fenômeno tem diversas dimensões, redes de conexões, que a tornam, na essência, complexa.
Na luta de ideias essa concepção filosófica é fundamental para situar os sujeitos na interlocução, para realizar a leitura do mundo e, plagiando Paulo Freire, perceber nos discursos os processos ideológicos intrínsecos, que estão implícitos. O debate político carrega elementos diversos, que precisam ser discernidos pelos indivíduos no diálogo. Nesse caso, a dialética nos ensina a ver os fenômenos, inclusive o pensamento, em movimento, em que as coisas não são, em definitivo, mas estão sendo, sendo, portanto, possíveis de mudanças.
A visão dialética nos possibilita não desanimar diante do que ainda não é. Ela nos coloca em situação de luta para tornar ser, mediante os esforços, por meio do processo de intervenção histórica. Nesse sentido, o que não está sendo hoje pode ser amanhã. A compreensão dialética do mundo nos oferece a esperança como fundamento das lutas sociais e políticas.
Para a lógica dialética nenhum fenômeno social ou político há em definitivo, em absoluto, de maneira sagrada. Para as professoras Telma Adriana P. Martineli e Solange Munhoz A. Lopes, a dialética compreende, na concepção de Marx, um momento de autoconstrução dos homens, o que pressupõe a relação entre os homens e a natureza (A CONCEPÇÃO MATERIALISTA HISTÓRICA E DIALÉTICA COMO MÉTODO DE ANÁLISE DA PSICOLOGIA CONTEMPORÂNEA).
A dialética é o conjunto de esforços que os homens movem para intervir na história, o constante fluxo e refluxo de ideias que se articulam no processo de pensar a realidade para melhor compreendê-la. A ação política para transição do capitalismo ao socialismo pode ser entendida no jogo dialético, de movimento, avanços e retrocessos, contradições.
Para a visão dialética a vida é uma permanente luta de preposição, o mundo social é visto como uma construção social, da participação consciente de homens e mulheres ao longo dos tempos. Os esforços efetivos e a reflexões filosófica constituem a práxis, maneira de agir e pensar sobre a ação. Assim é a luta de ideias, é preciso ação prática e reflexão dela à luz de teorias.
Por isso, é indispensável aos comunistas o ato de estudar, a atitude filosófica, a postura dialética diante dos fenômenos. A transição do capitalismo ao socialismo nos exige estas características, pois não será fácil, como acontece nas cenas das novelas da rede Globo, que tudo acontece em um passo de mágica. A transição requer superação da ideologia liberal, criar novas concepções de mundo. Desafia-nos a buscar no materialismo dialético as referências para tal empreitada.
O materialismo dialético estuda a relação entre as coisas e suas imagens no pensamento (as ideias, os conceitos), compreendendo que o movimento de ideias acontece porque a própria realidade material está em movimento e o cérebro humano, em atividade consciente, é capaz de captar este movimento (FMG).
Considera que não somente as ideias, mas todas as coisas do mundo estão em constante movimento, concatenadas (ligadas), têm influências recíprocas, se transformam (FMG).
Ao entender que a realidade está em movimentar convém aos comunistas procurar intervir nesse movimento, conduzir para o socialismo, para construção de uma nova sociedade, com justiça social, solidariedade, em que o resultado do trabalho dos homens e mulheres seja para seu bem-estar.
Partindo da concepção materialista e dialética se percebe que a sociedade se transforma, mas essa mudança precisa ser conduzida por quem deseja um projeto diferente. Pois o capitalismo se transformou, mas manteve sua essência historicamente, como sistema econômico que explora, concentra renda e riqueza, degrada a natureza de maneira irracional, que é um sistema perverso no ponto de vista social.
Nesse processo é interessante que a concepção materialista de história, que concebe as mudanças na prática, nas condições de vida das pessoas, não é apenas mudanças idealizadas, por vezes, abstratas. Só nos discursos.
A filosofia marxista tem uma concepção materialista de história, que consiste na análise materialista dialética da origem e do desenvolvimento da sociedade. Assim o desenvolvimento da sociedade tem leis objetivas; em cada época, as ideias, crenças, conhecimentos e instituições jurídicas e políticas relacionam-se reciprocamente com a base econômica (relações de propriedade, de trabalho, de produção, de consumo, de distribuição, de troca); e as sociedades se transformam (FMG).
Para Alex de Novais Danci e José Joaquim P. Melo o Materialismo Histórico surgiu em um momento especial, mas também sangrento para a classe trabalhadora. Especial porque se configurou como um momento em que o proletariado historicamente se conscientiza do seu papel revolucionário, e sangrento porque no momento em que se contrapõe de modo incisivo à burguesia, é que Marx e Engels, mas sobretudo Marx, com sua vasta produção teórica, procuram colocar a ciência, o conhecimento científico à serviço da emancipação humana. A análise que Marx faz da sociedade capitalista (obra O Capital), mostrando sua gênese, desenvolvimento e a possibilidade de sua superação, é uma maneira de oferecer à classe trabalhadora um conhecimento científico útil à luta pela emancipação humana (Materialismo Histórico: apontamentos introdutórios).
Segundo Max, do mesmo modo que não se julga o indivíduo pela ideia que de si mesmo faz, jamais se pode julgar uma tal época de transformações pela consciência que ela tem de si mesma. É preciso, ao contrário, explicar essa consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças sociais e as relações de produção (Contribuição à crítica da economia política) .
Para se entender melhor como Marx chega à compreensão de que o homem é o artífice da história e que essa mesma história será , portanto, aquilo que o homem fizer de si mesmo, é necessário trazer aqui a categoria trabalho . De uma importância central na teoria de Marx, o trabalho aparece como o ato fundador do ser social, sendo apenas por meio desta atividade criadora, que o homem se (re)cria constantemente, ao relacionar -se com a natureza , e dela, retirar aquilo que lhe é necessário para se manter vivo. Opondo-se qualitativamente ao animal que se relaciona com a natureza de maneira instintiva, o homem tem a capacidade de antecipar em sua consciência o fim da atividade (o trabalho) a que se propõe desenvolver. Portanto, o homem cria a partir daquilo que a humanidade já produziu historicamente (Danci).
Desse modo, na perspectiva materialista histórica, a história humana está isenta de qualquer aspecto determinista ou presa a algo como o destino, por exemplo. Para Marx e Engels, a história da humanidade é um campo aberto para o fazer humano, sempre tendo em vista que esse fazer é histórico e não ocorre de um modo aleatório, à revelia humana( Danci).
Para Lenine, o marxismo abriu caminho ao estudo universal e completo do processo do nascimento, desenvolvimento e declínio das formações econômico-sociais, examinando o conjunto das tendências contraditórias, ligando-as às condições de existência e de produção, exatamente determináveis, das diversas classes da sociedade, afastando o subjectivismo e o arbítrio na seleção das diversas ideias ‘dominantes’ ou na sua interpretação, revelando as raízes de todas as ideias e todas as diferentes tendências, sem excepção, no estado das forças produtivas materiais ( A dialética. A concepção materialista da história).
Nesta perspectiva, não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, pelo contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência. No entendimento de Lenine (1979), o materialismo histórico permite, pela primeira vez, estudar com a precisão das ciências naturais as condições sociais da vida das massas e as modificações dessas condições (Mantineli e Munhoz).
Luiz Etervaldo da Silva
Secretário de Formação Política
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