Aos 38 anos, Arno Burmann residia em Catuípe. Como ele mesmo conta, em matéria publicada na edição número 150 do Jornal da Manhã de Ijuí, as dificuldades de comunicação na época eram enormes, sendo o rádio o principal meio de informação. Certo dia, chegando em casa, encontra um grande número de homens e mulheres que esperavam para saber o que poderiam fazer para aderir ao Movimento da Legalidade que estava, naquele momento, inflamando o estado do Rio Grande do Sul. “Eu não era um líder! Também estava apenas pouco informado, só pela rádio, e não podia dar informações precisas. Então aconselhei a todos que acompanhassem os acontecimentos dos próximos dias, pois o movimento ainda estava em fase inicial”.
Em Pé o filho André e a esposa Dalzira. Cleusa, Arno Burmann e Rosane Simon, sentados. |
Com a insistência popular em participar do movimento, Arno fez uma lista com o nome de todas as pessoas que se dispusessem a lutar pela legalidade. “Tudo foi muito empolgante para mim e ficou marcado em meu ser. Em determinado momento marchávamos para uma guerra civil na qual aderiu a 3ª Região Militar do Exército, o que teve uma força notável, principalmente para o Rio Grande do Sul, onde os militares aguardavam armas para defender a legalidade”.
O Movimento da Legalidade foi um dos mais intensos da história do estado e por sua participação neste contexto em que mais uma vez o povo foi protagonista da história é que o militante comunista Arno Arcênio Burmann, foi homenageado na sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Ijuí, nesta segunda-feira, 22.
“Somos militantes da democracia. É pela mobilização popular de conteúdo democrático que saúdo o meu camarada Arno Burmann. Seu papel protagonista na mobilização popular em nossa região causou momentos dolorosos a ele e a sua família. Por isso receba, meu camarada, este abraço fraterno do legislativo ijuiense e do nosso partido por sua história de luta”, disse a vereadora comunista Rosane Simon, proponente da homenagem.
Falando pela bancada do PDT, o vereador Darci Pretto da Silva parabenizou Rosane Simon pela iniciativa, lembrando do protagonismo de toda a família Burmann no movimento. “Lembro que nesta época o irmão do Seu Arno, Beno Orlando Burmann, era prefeito de Ijuí. A família Burmann, com a coragem e a determinação que marca a todos que participaram deste movimento, defendeu os princípios democráticos e constitucionais que nortearam este momento histórico em defesa da democracia”.
Cleusa Burmann e Cláudio Silva Rufino |
Seu Arno, infelizmente, não pode estar presente. Aos 88 anos de vida militante, seu coração já não permite as fortes emoções de quem viveu com muita paixão e entusiasmo os seus ideais, defendendo a democracia. Por isso foi representado por sua filha, Cleusa. “Meu pai ficou muito emocionado quando soube desta homenagem. O seu exemplo de luta é seguido por toda a família, por filhos, sobrinhos e netos”.
Cleusa lembra que a opção política de seu pai pelo PCdoB foi tomada justamente quando as campanhas do “Petróleo é Nosso” e pela legalidade despertaram no jovem militante o respeito as liberdades democráticas individuais, síntese de democracia. Por isso mantem nele, até hoje “a convicção e a esperança de que o Brasil pode ser um país muito melhor para todos”.
Um democrata
Arno Arcênio Burmann, 88 anos, tem 60 anos de militância comunista. Nascido no mesmo ano em que o partido foi fundado, relembra com alegria sua iniciação política. Foi vereador na cidade de Santo Ângelo, de 1947 a 1951. Perguntado por qual partido havia concorrido, relembra as gargalhadas: “Naquela época eu ainda não tinha uma formação política e concorri por um partido bastante conservador”, diz sem citar a sigla. A partir do mandato é que envolveu-se com os movimentos que pregavam a soberania nacional e aproximou-se do comunismo, filiando-se então ao partido. Relembra como os amigos lhe cobravam, na campanha “O petróleo é nosso”. “Arno, não se meta com isso. Isso ai é coisa de comunista”. “Se defender a liberdade e a soberania do Brasil é coisa de comunista, então é o que sou”, retrucava.
Sobre a legalidade, lembra também da cobrança de alguns camaradas de que ao integrar o movimento, estaria defendendo Leonel Brizola. “Estamos defendendo a constituição, a democracia e os diretos do povo”. Ainda hoje, expressa a sua defesa da democracia, como em seu depoimento ao Jornal da Manhã. “Se acontecesse uma guerra, seria horrível. Mas depois, felizmente, aceitaram a vinda do Jango ao Brasil e ele pôde entrar no pais, mas somente com a condição de aceitar o governo parlamentarista”. Ele lembra do movimento com entusiasmo: “Queríamos lutar e defender os direitos do povo. Mesmo com a família e meus filhos pequenos tivemos gana de lutar e estas lutas valeram a pena, pois lutava-se por democracia”, relatou ao jornal.
Protagonistas da história
Também homenageado por indicação da bancada trabalhista, Cláudio Silva Rufino fez um importante resgate histórico daqueles acontecimentos e conclamou a todos pela preservação da memória viva destes fatos na região. “Os governo militares e também outros que os sucederam, quiseram apagar esta história. Deixo registrada a minha preocupação pela falta de memória destes acontecimentos em nossa região. Precisamos fazer o resgate dos episódios que pessoas como o Arno Burmann viveram pela preservação desta memória histórica”.
“Foi uma noite para renovarmos nosso ideais por liberdade e democracia, retomando o exemplo maravilhoso destes homens e mulheres do povo que não se negaram ao chamado para serem protagonistas da história”, comentou a vereadora Rosane Simon.
Ouça:
Manifestação da Vereadora Rosane Simon
Manifestação de Cleusa Burmann
Conviver com Camaradas como Arno Burmann, Agenor Castoldi e Israel Rocha é um privilégio, pela oportunidade que temos de ouvir, observar e aprender. Em cada palavra e na conduta destes Camaradas estão experiências de vida militante que tem muito a nos ensinar, forjando em nós verdadeiros comunistas. Que a vida nos permita muitos anos de convivência!
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