quarta-feira, 8 de maio de 2013

O leninismo para além do dogmatismo II

Vladímir Ilitch Lénine destacou-se no seu tempo como um grande intelectual, filósofo, economista, político, publicista, orador, legando-nos uma extensa e valiosíssima obra com 55 volumosos tomos. Mas na memória dos povos ficará para sempre como o líder do proletariado mundial, o criador do partido bolchevique, o organizador da primeira revolução socialista vitoriosa e o fundador do primeiro Estado socialista – a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (Jornal Avante).

Para Lênin o Partido era fundamental nos processos de vanguarda revolucionária. Porém necessita ser uma instituição provida de princípios organizativos, com unidade ideológica, concepções que deixassem claro o que se pretende ao lutar politicamente. Que socialismo se deseja para além das ilusões burguesas, em que as pessoas tenham no trabalho, como forma ontológica e história, o fundamento para organizar a nova sociedade. Nela o resultado do trabalho seria para o bem-estar humano, para todos, não apenas para uma elite econômica provida do poder econômico.

O trabalho em uma sociedade em transição do capitalismo para o socialismo é a base da organização social, cultural, econômica e política. A própria organização se constitui em trabalho político, por isso seu sucesso depende do conhecimento, da experiência reflexiva acumulada, principalmente da concepção marxista. “O proletariado na sua luta pelo poder, não tem outra arma senão a organização” (Jornal Avante). E partido organizado requer fundamentação teórica para se relacionar com a prática, para leitura das estruturas e conjunturas. A práxis (ação-reflexão-ação-reflexão) é indispensável a um partido revolucionário, Lênin nos ensinou.

O leninismo é uma filosofia que nos provoca a pensar, não seguir modelos prontos para adotar em determinados situações históricas, não olhar para o marxismo como se fosse receita. Lênin sempre comabteu o dogmatismo, bem como o voluntarismo e ativismo para a ação política. Para ele cada momento histórico requer novas olhares, novas perspectivas de táticas políticas, por isso valorização o estudo dos princípios e concepções para uma sociedade socialista. Pra formação da militância política, organização do partido, das instituições que podem contribuir para formação subjetividades emancipatórias.

Do estudo do pensamento de Lênin, fica-nos a persuasão de que a característica mais profunda de seu método, de sua mentalidade, é o sentido da concreticidade histórica, a consciência da historicidade. "A análise concreta da situação concreta é a alma viva, a essência do marxismo". Essa advertência, que reaparece mais de uma vez, parece-nos caracterizar o modo pelo qual ele se situa diante do marxismo (Gruppi).

Para Lênin não há lugar para ações involuntárias, sem propósitos definidos e fundamentados cientificamente. Cada militante tem, independente da sua formação, condições se necessidade de conhecer os princípios e concepções do marxismo. É o leninismo-marxista, como filosofia revolucionária para o século XX, que parte da lógica política e social de Marx e avança, ganhando outras performances de acordo com as exigências da atualidade.

Assim, ele parte - com um emprego do marxismo que já é incrivelmente maduro - da investigação da específica situação histórica russa, do modo peculiar pelo qual o capitalismo se desenvolve nesse país. A investigação da especificidade russa serve-lhe para fundar a posição do proletariado diante da democracia burguesa, assim como a necessidade da sua hegemonia (Gruppi). A atuação política, dessa maneira, constitui-se em desafio para ser desvendado por meio da investigação científica, estudo, racionalidade, visão dialética, então, reforça a importância dos intelectuais, que no esforço de compreensão das mais complexas ideias, compartilham com os demais sujeitos da participação política.

A convicção de Marx e Engels de que o marxismo não é um dogma, mas um método para a ação, é assim em Lênin algo muito forte; trata-se de uma ideia frequentemente repetida, sobretudo nos momentos de virada histórica e quando surgem novas situações políticas (Gruppi). Como método de ação o marxismo precisa ser visto, portanto, algo que precisa ser pensado, refletido, questionado, adequado a situações específicas, enfim ser entendido em movimento, um eterno vir a ser, de construção e reconstrução, sob novos olhares e perspectivas epistemológicas. “A teoria revolucionária não é dada para sempre; ela generaliza, elevando ao nível da consciência, a experiência histórica. Todas as vezes que - a história, como Lênin observa, "jamais se repete" - todas as vezes que se põem à práxis tarefas novas, as conquistas teóricas alcançadas até aquele momento não bastam mais e colocam-se novas tarefas de investigação e de elaboração”.

O marxismo, portanto, não é uma teoria universal que contenha em si todas as respostas; não é uma "filosofia da história" da qual possam ser deduzidas todos os momentos históricos. É o método que permite compreender o processo histórico em sua determinação concreta. Não é possível nenhuma separação entre método e teoria. O método só é tal enquanto se vale de categorias científicas, resultantes da tomada de consciência dos elementos que constituem o processo da história (Gruppi).

O marxismo-leninismo é esse processo de associar o contexto histórico aos olhares, investigações, do atual curso da história. Tomar Marx como teórico importante, mas não utilizar suas ideias sem uma reflexão crítica de como isso se adequa ao movimento atual. A concepção de Lênin é marcada pela dialética entre a ciência (Marxismo) e a realidade, leitura dela, a partir do movimento das racionalidades provenientes das reflexões realizadas, dos estudos e dos esforços de entendimento.

Luiz Etevaldo da Silva
Secretário de formação

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